A Hora da Estrela é a próxima atração da Agitação Cultural de Buerarema‏

Grupo A Tribo
Divulgação

Famoso por ser um consistente representante do Modernismo nacional, o romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, ganhou sua versão para o teatro em adaptação do premiado dramaturgo Luís Sérgio Ramos. A pré-estreia será nos próximos dias 15, 16, 17, 22, 23 e 24 de abril, às 20 horas, no Centro de Cultura Adonias Filho. Produzido pelo grupo A Tribo, a peça tem direção de Gideon Rosa e integra a programação do projeto de Agitação Cultural de Buerarema, que acontece até junho na Casa de Cultura Jonas&Pilar, em Buerarema.

O espetáculo tem cerca de 40 minutos e se propõe a ser um facilitador para aqueles que possuem dificuldade em relação à obra de Clarice Lispector. Resultado de mais de um ano de oficina com novos atores, o grupo A Tribo, depois de mais de 15 anos de atuação na região, avança na direção de aprimoramento técnico e aquisição de novos integrantes que serão vistos nessa montagem.

A Hora da Estrela (1977) é a última obra de Clarice Lispector. Nesse livro, que tem como narrador Rodrigo S.M., alter ego da autora, há o retrato de uma jovem nordestina, Macabea, que tenta sobreviver na cidade grande. A narrativa, complexa, é marcada pela presença dos conflitos existenciais da protagonista. A narrativa é uma interminável pergunta sobre a condição humana, ao longo de um enredo no qual se fundem histórias ou eixos distintos e complementares: a vida ruim de Macabea, imigrante nordestina que vive desajustada no Rio de Janeiro.

“Nossa versão de A Hora da Estrela é um pequeno mergulho no universo da juventude. No início são adolescentes que estão em um acampamento e resolvem encenar a história de Macabea”, diz o diretor Gideon Rosa. Segundo ele, essa foi uma estratégia para facilitar a veiculação dos temas do romance que, às vezes, impõem barreiras ao leitor menos experimentado.

“Reconhecemos primeiramente que o teatro tem uma certa dificuldade em retratar tudo o que a literatura é capaz de deixar impresso nas páginas do livro, por isso não abri mão nem do lúdico nem do humor”, conta o diretor do espetáculo. O dramaturgo Luís Sérgio Ramos apanhou a linha principal da obra com o intuito de apresentar o livro a estudantes e à comunidade que desconhece a grandiosidade de Clarice Lispector.

“E eu radicalizei na montagem, ao retirar a figura do narrador e apostei na argúcia do espectador”, diz Gideon, que considera Luís Sérgio Ramos um dos mais talentosos dramaturgos baianos. “Da minha parte fiquei apavorado com o aspecto trágico e tenso de toda a trama e busquei enfatizar os assuntos que estão em voga na atual conjuntura, um deles, o preconceito com o qual os nordestinos são tratados pelos sulistas, o que é histórico “, observa o diretor.

“Tentei imprimir leveza numa história trágica”, diz Gideon. A Hora da Estrela, versão de Luís Sérgio Ramos, resultou num espetáculo de curta duração: apenas 40 minutos. “Mas lá está o essencial do talento literário de Clarice, acredito”.

Luís Sérgio Ramos começou a escrever ainda adolescente em Itororó e como não possuía muito acesso aos livros, inventou de fazer adaptações dos especiais de televisão. “Um deles foi Meu Último Baile, de Janete Clair e como não tinha o texto em mãos, usei apenas a memória, quando percebi tinha reescrito toda a história, focando o que mais me interessava”, explica o dramaturgo.

No caso de A Hora da Estrela, Luís Sérgio Ramos garante que teve mais compromisso com o original, afinal de contas estava adaptando um texto da enigmática e genial Clarisse Lispector. “Mesmo assim tive que criar situações e diálogos inexistentes, já que se tratava da transposição da literatura para o teatro e acabei inventando uma personagem que não existe, como a moça que sai da casa da cartomante antes de Macabea entrar no estabelecimento”, confessa o dramaturgo.

Dentre suas obras encenadas estão Um Prato de Mingau para Helga Brown (Troféu Bahia Aplaude/96 de Melhor Texto, publicado em 2004), A Bússola de Úrsula  (Troféu Bahia Aplaude/97 de Melhor Texto), A Cicatriz (também publicado em 2004), Se O Ascendente de Mamãe Fosse Aquário (meu predileto, adaptado pelo IAT e TVE), Enquanto a Era de Capricórnio Não vem (sobre a descoberta da América, excursionei com este espetáculo pelo sul do Brasil, Uruguai e Argentina, uma aventura inesquecível),  Erro de Fabricação e os inéditos Um Estranho em Madrid e o Jogo de Demétrius, neste não existe a letra “A”.

A realização é do Instituto Macuco Jequitibá e faz parte da programação do edital Agitação Cultural Buerarema 2016 (Casa de Cultura Jonas&Pilar), com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.